No nascimento do Lucas, citei o
grupo Samauma, que se tornou muito importante no modo com passamos a ver a
gravidez, o parto e a educação que queremos dar para o nosso filho.
Tudo começou de maneira despretensiosa.
A Barbara queria participar de algum grupo de grávidas, simplesmente por
participar. Queria poder falar sobre gravidez com alguém que estivesse na mesma
situação, afinal, dizia ela, “mulher grávida quer falar sobre gravidez e talvez
isso seja meio chato para quem não está na mesma situação”.
Ficamos sabendo de um grupo de
grávidas que se reunia em barão através de uma amiga que tinha acabado de ter
uma filha. No início fui reticente. Na minha cabeça de engenheiro, encontros
desse tipo soam como grupos de auto-ajuda, um negócio meio chato. Ficava
imaginando aquele grupo cheio de hippies, dançando ciranda ao final de cada
encontro, de pés descalços para ficar em contato com a mãe Gaia. Não era para
mim...
Posterguei o quanto pude. Mas
chegou o momento de irmos. E nesse primeiro dia, foi um dia cheio. Acho que
nunca havia visto tantas grávidas juntas. E, mais interessante, algumas pessoas
que já tinham seus filhos, mas gostavam de ir até lá para ouvir um pouco mais
sobre parto humanizado.
Parto humanizado? Que raios é
isso, exatamente? Só sabia que eram a favor do parto normal. Até então, nem
sabia a diferença entre normal e natural. Mas nesse primeiro dia nosso, o
interessante foi ver várias mulheres e homens, dando o seu depoimento de como
foram seus partos anteriores, as expectativas e problemas que passaram; e também
o que queriam para o seu próximo parto.
Para a Barbara foi um dia de
choque. Uma pessoa cesarista, que começa a ficar em dúvidas do que quer logo
que ficou grávida, de repente se encontra em um espaço onde todos falam do
parto natural e garantem que é a coisa mais maravilhosa do mundo.
Pirou total em um primeiro
momento. Mas depois quis saber mais e mais, até que abraçou a causa. Para mim
não foi tanto uma mudança de paradigma, mas sim de absorção de conhecimento.
Nos seis meses que freqüentamos o grupo, semanalmente, faltando umas duas vezes
apenas, aprendi muito, escutei muita barbaridade do que acontece no mundo da
obstetrícia e muita coisa legal também.
Cheguei à conclusão que talvez
parto humanizado não seja o melhor nome. Diria que parto instintivo seria
melhor. O ser humano se desenvolveu por milhares de anos usando seu instinto
para parir e criar seus filhos, até que nas últimas décadas fez o que faz com
tudo: “humanizou”, ou seja, encheu de racionalidade e regras algo que não havia
problema em ser instintivo.
A dinâmica do grupo era simples:
normalmente tinha um tema a ser discutido, que começava com um relato de parto,
um filme ou uma explicação. Após isso começava uma sessão de dúvidas, onde
todos tinham o direito de falar e responder. A discussão era sempre guiada por psicólogas,
doulas, neo-natologistas, pediatras e uma médica obstetra. Nem sempre todas
estavam presentes na reunião, mas ao menos três delas estavam sempre por lá. Tudo isso sem cirandas!
A grande vantagem do grupo não
foi apenas conhecer esse movimento de humanização, mas sim ter um espaço para
discutir seus receios e medos; e buscar informação do que é verdade e o que não
é.
Por isso, não importa se você é
cesarísta, humanizado, quer ter seu parto de baixo de uma arvore ou plantando
bananeira, ache um grupo que está em linha com seu pensamento e participe,
busque informações, para que, na hora do parto, você esteja mais seguro,
informado e confiante que TUDO o que está por vir vai dar certo. Muito certo...