Posso dizer que o processo que desencadeou o parto começou bem antes, lá pela 35ª semana. A Barbara havia inchado muito no período de um mês. Começamos então uma investigação para pré-eclampsia.
Pré-eclampsia é uma disfunção causada pela gestação que prejudica as funções renais e faz com que aumente a pressão sanguínea. Além de pressão alta, outros sintomas são a retenção excessiva de líquido e proteína na urina. O problema da pré-eclampsia é que pode se desenvolver e, além do mal que faz a mãe, causar um descolamento de placenta e prejudicar o bebê.
Fizemos exames funcionamento do rim e mais outras propriedades sanguíneas, passamos a monitorar a pressão e verificamos o fluxo sanguíneo na placenta e no bebê. Todos os exames deram normais, a não ser por uma quantidade excessiva de proteína na urina.
A Barbara passou a ficar de repouso e fizemos mais um exame para determinar o quanto, exatamente, estava o nível de proteína na urina. E deu quase o dobro do aceitável. Resultado: a médica decidiu internar a Barbara para ter um controle mais rigoroso da pressão e começar uma indução do parto para evitar o pior – para a mãe e o bebê.
Foi um momento de sentimento dúbio: ao mesmo tempo em que estava muito feliz que a chegada do meu filho se aproximava, estava preocupado com a razão disso. Na minha cabeça, a situação não era tão grave. Nessas googladas da vida, eu havia chegado à conclusão de que se a pressão estava ok, não era um grande problema.
Enfim, nos internamos. “Nos” porque fiquei lá junto, o tempo todo. A indução começou já na sexta-feira com o descolamento da bolsa no colo do útero – uma maneira mais natural de se induzir o parto. No dia seguinte um novo descolamento. No domingo a Barbara me acordou, por volta das 4:30am, dizendo que estava em contrações durante um bom tempo.
Nos animamos com a possibilidade de dar tudo certo, sem remédios. Começamos a monitorar as contrações e durante duas horas ela manteve contrações de 5 em 5 minutos, as depois disso parou.
Chamamos a Mariana (a médica) e a Lara (nossa doula). A Mariana explicou a situação: disse que, apesar da pressão estar estável, ainda poderia disparar de repente e causar complicações. Que era melhor começar a indução com ocitocina sintética.
Começamos e, algum tempo depois, vieram as primeiras contrações. Nessa hora, estávamos eu, a Mariana, a Lara e a Dorothe (outra doula) no quarto, todos com a atenção voltada para a Barbara e o Lucas, que também estava sendo monitorado. Eu, na espera que tudo desse certo, de que logo poderíamos ter nosso filho ao nosso lado.
Mas o Lucas, sempre preguiçoso, não estava a fim de se animar. Quando a mãe tem uma contração é esperado que o bebê reaja, que se mexa de alguma maneira e, apesar de batimentos cardíacos constantes, o Lucas ficava quietinho, quietinho, se mexia muito pouco. Tentamos animá-lo falando com ele, colocando alarme, música, mas todas essas coisas apenas o mantiveram acordado, mas não se mexendo.
Depois de algum tempo insistindo a Mariana nos falou que era melhor partir para uma cesárea. Que o Lucas não estava reagindo e que era melhor não arriscar. Foi como uma bomba, uma descarga de sentimento e emoções intensas.
A Barbara, até o início da gravidez, dizia que teria uma cesárea marcada. Que entraria sem sentir as dores do parto, tiraria a criança e iria para casa. Ela passou por um processo de angústia por estar em dúvidas de qual tipo de parto seria melhor. E se encontrou em um grupo de grávidas que defende o parto humanizado, o Samauma (mas vou deixar um post especial para explicar isso). Enfim, a cabeça dela se transformou de cesárea para parto natural hospitalar. Acho que ela merecia esse parto que ela digeriu, elaborou e planejou e a cesárea necessária tirava essa possibilidade.
E, do outro lado, estava o bem estar do meu filho. Minha cabeça ficou a mil com a possibilidade dele não estar bem, de ter algum risco para ele. Tudo o que eu queria era ele logo no meu colo.
Fomos para a sala de cirurgia e enquanto preparavam a Barbara liguei para os pais dela para avisar que o Lucas nasceria e também para minha mãe. Foi um momento de desabafo e de tirar o peso dos ombros. Estava segurando as pontas até então e um colo de mãe era o que eu precisava para passar por aquilo mais tranqüilo. Mesmo que por telefone.
Fui autorizado a entrar na sala de cirurgia somente após a Barbara já estar anestesiada e a cirurgia ter começado. Ela estava nervosa e tentei acalmá-la como podia. Não demorou muito e o anestesista falou que eu podia levantar que eu veria meu filho. Eu estava tenso, acho que queria ouvir um choro. Hesitei mas levantei no exato momento em que ele era retirado da barriga da mãe e soltava um sonoro choro.
Me enchi de lagrimas, de alívio e felicidade. Indescritível o que senti naquele momento. A pediatra, Ana Paula, o pegou e trouxe direto para nós e ele ficou ali por um tempo, deitado sobre a Barbara e com a cabeça na minha mão. Depois de um tempo ele foi levado para primeiros cuidados e fui junto, fiquei com ele lá, no meu colo, só me apaixonando.
Voltei com ele para a Bá, para que ela pudesse vê-lo mais um pouco. E ficamos por ali. Quando a cirurgia estava para acabar fui junto da pediatra para fazer as medidas dele de peso e comprimento: 4170g e 52 cm, um meninão! Vesti ele, junto da Ana Paula e, quando terminamos, ela o levou para ficar com a Barbara na sala de recuperação.
Eu voltei eufórico para o quarto. Feliz e aliviado que tudo tinha dado certo e que eu tinha um filho lindo e saudável para criar e paparicar.